Portugal e as crianças em risco
O director do Refúgio Aboim Ascensão disse esta quarta-feira que Portugal tem cerca de 100 mil crianças em perigo e um défice de estruturas para as acolher temporariamente de forma a evitar que sejam vítimas de maus-tratos ou abusos.
Luís Villas-Boas, que falava num Encontro sobre Abuso Sexual de Crianças e Jovens, no Seixal, alertou para a necessidade de uma actuação precoce que evite vítimas todos os dias e de mais investimento do Estado na criação de estruturas de acolhimento temporário.
«Faltam cerca de três mil camas de acolhimento para crianças dos 0 aos cinco anos e só em Lisboa faltam 300 camas», disse, acrescentado que enquanto este problema não for resolvido não se pode falar em protecção de crianças em Portugal.
Segundo Luis Villas-Boas, custa muito menos ao Estado criar estas estruturas temporárias, que visam depois a reinserção das crianças na sua família ou numa família de adopção, do que manter uma criança numa instituição.
«É muito mais barato o apoio a uma família do que pagar centenas de contos por mês para uma criança estar depositada anos numa instituição. Temos uma necessidade urgente de desinstitucionalizar e criar unidades precoces de apoio», disse.
O responsável pelo Refúgio Aboim Ascensão, instituição particular de solidariedade social sedeada no Algarve e com vagas para 95 crianças em risco dos 0 aos cinco anos, contesta a institucionalização das crianças por considerar que todas devem ter direito a uma família, a um pai ou a uma mãe.
«Portugal não tem de ter filhos das obras (...) Tem de ter filhos do pai e da mãe, ou só de um pai ou só de uma mãe. E se um pai ou uma mãe não tem capacidade existem tribunais que decidem e outras famílias que fazem filas porque querem adoptar uma criança», disse.
Luís Villas-Boas defende que Portugal deve ter uma política de acolhimento imediata e um sistema de adopção agilizado.
«Temos um acolhimento doente e uma adopção anestesiada. A adopção em Portugal não funciona! Não pode haver seis mil meninos em acolhimento quanto existem três mil candidatos à adopção de crianças?», disse.
A protecção das crianças, adiantou, é um assunto nacional e sem cor política.
«Ninguém está isento de actuar na protecção dos direitos da criança. O Estado, a sociedade civil são parceiros. Os tribunais e o governo são responsáveis», disse.
Durante o painel da manhã, a ex-presidente da Comissão Nacional de Crianças e Jovens em Risco, Dulce Rocha, defendeu uma ligação mais estreita desta entidade com a Comissão Nacional para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres.
Segundo Dulce Rocha, os maus-tratos conjugais estão associados aos maus-tratos infantis e o cruzamento de dados das duas instituições poderão ajudar à detecção precoce do risco.
Este encontro sobre Abuso Sexual de Crianças e Jovens reuniu mais de trezentos profissionais, entre professores, educadores de infância, estudantes, enfermeiros, médicos, advogados, juízes e assistentes sociais.
Promovido pela Câmara Municipal e pela Cooperativa de Solidariedade Social «Pelo Sonho é que Vamos», o encontro pretendia contribuir para a construção de uma rede de conhecimentos necessária à análise e compreensão do abuso sexual de crianças e jovens.
11 Comentários:
o nosso país infelismente pouco pensa nas crianças, será que é possivel uma criança viver ate a adolescencia num orfanato quando existe tantos casais sem filhos e que querem adoptar? so que o governo paraece que gosta desta situaçao e trava os casais com pedidos de papeis e mais papeis.
depois essas crianças ornem-se marginais e como fragilisadas que estao sao alvos mais faceis para abusos tanto sexuais como outros.
é o nosso portugal
beijinhos
Querida, que bom que me visitou...
Adorei seu blog tbm... vamos trocar informações! O Blog quem fez foi a Ana, ela faz por encomenda... se quiser, te passo o endereço do site dela ok?
Concordo com tudo o que vc disse, e aqui no Brasil a situação é bem parecida...
Ahhh, vc tem dois filhinhos???
A política de adopção em Portugal é simplesmente vergonhosa. E infelizmente não há quem mude isto :(
Aqui não está em jogo apenas a "Politica da adopção". Há muitas crianças que precisam de permanecer em instituições sem contudo estarem aptas para serem cedidas para a adopção. Nem todas as crianças dos orfanatos são destinadas à adopção. Muitas delas têm familias que não permitem que sejam adoptadas. A questão aqui passa tb pelas familias de acolhimento.Se cada um de nós abrir a porta de casa para receber uma criança, será menos uma nas instituições...
Casais que pretendem adoptar são muitos, crianças disponiveis para adoptar são poucas, tendo em conta que o desejo de todos eles é adoptar crianças recem nascidas ou ainda muito pequenas. Familias de acolhimento são ainda menos que os potenciais adoptantes...
Uma coisa a pensar com o Renan. cada vez mais a sério! Tornarmo-nos numa familia de acolhimento!
Beijinhos, muitos, muitos
Primeiro, subscrevo as palavras da vizinha de cima. Há de facto muito poucas crianças adoptáveis (especialmente brancas e de tenra idade). Mas há um grande défice na protecção de menores. E isto não se aplica apenas aos que se encontram em instituições. Se alguma de vocês souber de um caso em que a criança se encontra em perigo e o denuncie, não há quem tenha poder suficiente para resolver a questão (os pais são quase donos e senhores). Apenas os tribunais podem executar e estes demoram uma média de dois a três anos (algumas comarcas mais, outras menos). Quando os tribunais deliberam muitas vezes é tarde demais. E enquanto isto tem que se assistir ao sofrimento de uma criança - é mesmo muito triste!
Olá,
Em que tipo de parceria estás a pensar? Como poderíamos trabalhar em conjunto?
Em Portugal infelizmente o processo de adopção é vergonhoso. E quem mais sofre são as crianças, pois por questões burocráticas não conseguem viver numa familia e receberem todo o amor que merecem.
Bjocas
Esta é só mais uma das desgraças deste país.
Joquinhas
Por acaso já pensei a sério na familia de acolhimento. Mas deixa-me bastante apreenssiva pensar que vou ganhar amor a uma criança para de seguida vê-la partir sabe-se lá para que condições. Os casos maus são tantos. Não sei se teria coragem. A adopção está nos nossos planos a longo prazo.
Eu desde muito cedo tinha decidido não ter filhos de sangue, acho que existem tantas crianças a precisar de um lar que mais valia adoptar... no entanto nasceu a india e não me arrependo nada, pois é o amor da minha vida ... mas o 2º filho vai ser de coração!!!
Daqui a uns 2 anitos vou começar a tratar da vinda dele =)
Só espero que até lá as coisas tenham melhorado ...
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